O fardo de crescer

o arrependimento de querer crescer

Se existe uma coisa da qual eu me arrependo de ter dito, com certeza foi, de ter desejado crescer logo na infância.

Gostaria de impedir que essas palavras tivessem saído da minha boca, porque o maior fardo que carrego é de ter desejado isso.

Quanto estupidez e ingenuidade da minha eu de 10 anos.

Não sabia que suas preocupações da vida não seriam mais perder o episódio da sua série favorita.

Que não seria esperar todos os desenhos chatos do mundo Disney passar até iniciar aqueles que gostava.

Que não seria mais, perder os desenhos da tarde porque tinha que ir para escola.

Que não seria mais ter que ir dormir só porque queria brincar mais um pouquinho.

Que não seria mais se frustrar porque nunca conseguiu ligar para o Bom dia & Companhia.

Que não seria mais ter que implorar para sua mãe deixar ir brincar na casa da amiguinha.

Que não seria mais não ter aquela boneca da Barbie.

Deveria ter aproveitado mais os bons momentos da infância, porque eles iriam acabar cedo demais.

Tenho saudades da infância, mas apenas dos momentos em que fui apenas uma criança.

Porque a infância não foi (100%) um mar de rosas, os momentos ruins que vive gostaria de apagar da memória e de esquecê-los para que os traumas não viessem me prejudicar como hoje.

Eu gostaria de voltar à minha infância e viver apenas os momentos bons - é desses momentos que tenho saudade.

Eu cresci, mas cresci em alguns aspectos antes do tempo - amadureci, precocemente em certas coisas.

A maturidade que deveria vir com o tempo e as experiências da vida foi adiantada por N fatores - e isso não é algo do qual me orgulho.

Sempre ouvi que possuía uma maturidade maior do que esperada na minha idade, mas esses “elogios” nunca me cativaram.

Quanto mais eu crescia, maior ficava o fardo da vida; quanto mais eu cresço, maior o peso fica.

E por mais que isso tenha algum aspecto positivo, a falta de experiência na vida sempre vai me fazer sentir que não sei resolver nenhum problema por menor que seja.

Em um piscar de olhos, minha infância se foi, em um piscar de olhos, minha adolescência se foi - e nas duas fases sinto que não consegui aproveitar como deveria.

A infância passou, e só a nostalgia desse tempo ficou. O tempo em que eu ainda sentia que estava vivendo e não sobrevivendo - o tempo em que sentia que não estava apenas existindo.

Sinto que minha vida está tão monótona que viver e existir se tornou monótono.

Crescer desecandeou esse fardo de que, quanto mais amadurecemos e percebemos a realidade ao nossa redor, sofremos - pois não temos perspectiva de um mundo melhor.

E o tempo… não dá tempo para ninguém. Passa tão depressa, quando se dá por conta mais um dia passou, mais uma semana se passou, mais um mês se passou, mais um ano se passou…

Afinal de contas, a vida nunca avisa quando é a última vez. O tempo não espera, apenas chega sem avisar ninguém.

Cresci rápido demais e sinto que não aprendi de verdade a lidar com isso. Dizem que só se aprende vivendo, mas como eu queria ter um manual de instruções que me dissese exatamente o que eu deveria fazer.

Agora, tenho que lidar com essa tal vida adulta que definitivamente não me agrada - e eu não sei quais escolhas são as certas ou erradas que podem decidir meu sucesso ou fracasso.

Cresci sem saber crescer, ainda não me sinto alguém que vai fazer 19 anos. Muitas vezes ainda me sinto como uma criança, querendo ser protegida, querendo que alguém me guia e diga o que fazer, como prosseguir…

Mas crescer significa se soltar, soltar a coleira e deixar o guia porque já não cabe mais a ele guiar o caminho, fazer as escolhas que devemos fazer por conta própria - o que não é acolhedor e nem confortável.

No fim das contas, crescer é um fardo e, na realidade, estamos sempre em constante crescimento, e a vida sempre reserva uma caixinha de surpresas que com certeza não temos preparo para lidar.

Afinal, é vivendo e aprendendo, né?

Mas, às vezes eu gostaria de continuar sendo burra, porém feliz :)

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